quarta-feira, 11 de março de 2015
"Promete que não conta a ninguém? Certo, eu tinha este sonho 
seguidamente. Eu ficava esperando muito tempo, até que o ônibus 
finalmente chegava. Eu estendia a mão, ele parava, e quando eu levantava
 o olhar pra checar a lotação, eu via você. Quer dizer, um cara. Mais 
ninguém, só você. E eu sabia. Simplesmente sabia que era você, que era 
ele. Que era minha vez de subir, que tinha um assento reservado com meu 
nome. Mas eu ficava paralisada, com vergonha e sem saber como agir, sem
 saber onde pôr as mãos. No fundo, eu tinha medo de subir porque eu 
teria de tomar a iniciativa, chamar atenção, fazer alguma coisa que 
fosse. Era mil vezes mais confortável enquanto eu esperava, esperava, 
esperava. Aí o ônibus arrancava e você, esse cara, girava o pescoço e 
ficava olhando pra trás, uma carinha linda de cão abandonado, até sumir 
na esquina. E eu ficava lá, parada, com os pés encravados no chão, vendo
 minha chance passar. Aí eu acordava ensopada de suor e me achando a 
mais covarde do mundo."
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