quarta-feira, 1 de abril de 2015
"Um dia a gente vai se encontrar de novo e o impacto desse encontro será
como dois planetas colidindo. Talvez em um supermercado qualquer, numa
festa de um amigo em comum, ou, quem sabe… De lados opostos na rua,
esperando o semáforo nos dar a liberdade, o livre arbítrio para colidir.
Faiscar. Explodir em uma expansão imensurável. Nesse momento, seremos
um universo inteiro. Estaremos casados, não com um de nós, com alguém
qualquer que acharemos algum defeito para diminuir a dor da
substituição. Um de nós com um trabalho dos sonhos, o outro com o que
deu pra conseguir, ou, procurando emprego. Algum de nós, talvez, já
tenha tido filhos, esses que não possuem a tão cobiçada característica
favorita que escolhemos um no outro. Será um grande choque, posso
presumir. Tudo será nada, mas, o nosso nada será tudo. Um filme curto
dos nossos pequeninos momentos passará em nossas cabeças como em tela de
cinema, flashback maldito… Trará, sobretudo, os momentos bons. Eles e a
saudade que consumirá os nossos corpos enquanto faiscamos no nada que
sobrou do mundo. Tudo estará pálido, lento e em vertigens, apenas nos
enxergaremos. Com sorte, cumprimentaremos um ao outro rapidamente, Eu…
Ainda terei os mesmos olhos grandes e usarei o mesmo tom de batom, você…
Barba por fazer e cabelo desgrenhado. Colidiremos. Desmancharemos essa
galáxia inteira com uma explosão de infinitas partículas de saudade. E
quanto ao depois? Continuaremos andando ué, deixaremos que nossa rotina
nos engula de novo. Quem sabe um de nós olhará pra trás só para o caso
de ter certeza que tudo realmente aconteceu. Sorriremos ao pensar que
“depois de tantos anos se gastarem…” colidimos. E porque somos assim,
tão humanos e covardes, não passará disso. Nós não passaremos de nós…
Restos de planetas, pó de estrela e saudade. E a colisão não passará do
simples ato de colidir, o nosso mais profundo verbo: Eu colido, tu
faíscas, nós universo."
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