“Um
belo dia você acorda e se dá conta que está cansado. Você se cansa da
cidade, dos carros, das luzes. Você se cansa do lixo, das pessoas, do
barulho. Se cansa de não saber para onde ir, se cansa de não ter para
onde ir e precisar ir para algum lugar. Você se cansa de não ter razão,
de não ter caminhos, de não ter opções, se cansa de ver sua vida igual a
de todos os outros, se cansa de ser de um rebanho sem pastor. Você se
cansa de chefes, deuses, impostos, moda, dinheiro. Você se cansa da
sensação de estar desperdiçando seu tempo, você se cansa de não ter
tempo algum para desperdiçar. Você se cansa de viver em um mundo onde
quem não está desesperado, está louco. Você se desespera com medo de
enlouquecer. Respira fundo, acende um cigarro. Você se cansa de não
saber exatamente do que está cansado. Se cansa do “alguma coisa está
errada” que paira sobre o ar desde uma época que você não se lembra. Se
cansa das avenidas, das ruas, das alamedas, das praças, do sol, dos
postes, das placas de sinalização, das buzinas. Você se cansa de amores
incompletos, de amores platônicos, de falta de amor, de excesso disso e
daquilo. Se cansa do “apesar de”. Se cansa do rabo entre as pernas, da
sensação de estar sendo prejudicado, se cansa do “a vida é assim mesmo”.
Você se cansa de esperar, de rezar, de aguardar, de ter esperanças,
cansa do frio na barriga, cansa da falta de sono. Você se cansa da
hipocrisia, da falsidade, da ameaça constante, se cansa da estupidez, da
apatia, da angústia, da insatisfação, da injustiça, do frenesi, da
busca impossível e infinita de algo que não sabe o que é. Se cansa da
sensação de não poder parar. E você não para, até que esteja morto.”
PC Siqueira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário